Entrevista com Brad Gilbert
- Lucas Ghisleni

- 29 de ago.
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Resumo
A entrevista com Brad Gilbert, ex-tenista profissional e renomado treinador, traz uma profunda reflexão sobre a carreira no tênis, o papel do treinador, a mentalidade dos jogadores e as nuances do jogo em níveis profissionais. Brad compartilha sua trajetória desde a infância, quando começou a jogar tênis, até sua transição para o coaching, destacando aspectos técnicos, táticos e psicológicos que influenciam diretamente o sucesso dos atletas. Ele enfatiza a importância de conhecer as próprias forças e jogar dentro delas, sobretudo sob pressão, além de destacar a necessidade de adaptação durante as partidas. Gilbert também aborda as diferenças individuais entre os jogadores, a evolução da tecnologia e do suporte nas equipes atuais, e o desafio de equilibrar a vida pessoal com a carreira esportiva.
O coach revela que sua abordagem é prática, lógica e centrada no desenvolvimento do atleta de forma personalizada, respeitando as particularidades de cada jogador. Ele discute o impacto do ambiente familiar, o envolvimento dos pais na carreira dos jovens atletas e a importância da paciência e realismo quanto às expectativas. Gilbert ressalta que o tênis é um jogo de pequenas margens, onde a vitória pode ser decidida por poucos pontos, e que o sucesso está diretamente ligado à capacidade de adaptar estratégias, gerir emocionalmente os momentos decisivos e manter a consistência nos fundamentos do jogo.
Além disso, o treinador comenta sobre sua experiência com grandes nomes do tênis, como Andre Agassi e Andy Roddick, destacando como o coaching vai além da técnica, envolvendo também apoio emocional e compreensão das dificuldades pessoais dos atletas. Ele reforça que o trabalho no tênis é uma jornada que exige paixão, disciplina, equilíbrio e, acima de tudo, a capacidade de aproveitar o percurso, não apenas os resultados.
Destaques
A importância de jogar sempre para as próprias forças, especialmente sob pressão.
Coaching eficaz é sobre entender e explorar as fraquezas do adversário.
O equilíbrio entre vida pessoal e carreira pode melhorar o desempenho do atleta.
Pequenas melhorias nos fundamentos, como o saque, podem transformar rankings.
Cada jogador tem um estilo único; o coaching deve ser adaptado a isso.
A paciência é vital para o desenvolvimento e longevidade na carreira.
A mentalidade positiva e o foco no presente são cruciais em momentos decisivos.
Principais Insights
Margens pequenas decidem grandes resultados: Brad Gilbert enfatiza que no tênis profissional, a diferença entre ganhar ou perder muitas partidas está em poucos pontos. Ele cita Roger Federer, que venceu 53% dos pontos em sua carreira, mostrando que a excelência está na consistência em momentos cruciais, não apenas em dominar o jogo com larga vantagem. Isso destaca a necessidade de foco nos detalhes e na gestão dos pontos-chave, especialmente em tie-breaks e momentos decisivos.
O papel do treinador vai além da técnica: Gilbert explica que, além das habilidades técnicas e táticas, o coaching envolve um profundo entendimento psicológico do atleta. Ele compartilha a experiência de trabalhar com Andre Agassi, que enfrentava problemas pessoais que afetavam seu desempenho. O treinador precisa saber quando dar suporte emocional e quando se manter na função técnica, respeitando o espaço do jogador, mas estando disponível para ajudar no que for possível.
A adaptabilidade é fundamental em quadra: Um ponto recorrente é a necessidade de mudar estratégias durante o jogo. Gilbert observa que insistir em um plano que claramente não está funcionando é um erro grave. Jogadores e treinadores devem ser flexíveis, reconhecer quando o adversário está explorando um ponto fraco e ajustar o jogo em tempo real para evitar derrotas inevitáveis.
Foco nos fundamentos que impactam o resultado: A melhoria em aspectos simples, como o percentual de jogos em que o saque é mantido, pode ter impacto significativo no ranking do jogador. Gilbert menciona que, ao trabalhar com Agassi, o foco em melhorar o saque e o percentual de pontos ganhos no serviço transformou seu rendimento. Isso mostra que o sucesso pode vir de ajustes pequenos, mas estratégicos.
Coaching personalizado baseado na empatia: Os jogadores respondem de maneiras diferentes aos estímulos e orientações. Gilbert destaca que alguns atletas são mais intuitivos e independentes, enquanto outros necessitam de mais direcionamento. O treinador eficaz deve adaptar sua comunicação e táticas ao perfil do atleta, cultivando um relacionamento baseado em confiança e compreensão.
Importância de um ambiente equilibrado e saudável: A entrevista traz reflexões importantes sobre a influência dos pais e familiares no desenvolvimento dos jovens atletas. Gilbert alerta para o perigo de pressões excessivas e expectativas irreais, que podem causar desgaste emocional e desmotivação. Ele defende que o atleta deve jogar para si mesmo, com suporte, mas sem que a pressão externa se torne tóxica.
A mentalidade e a atitude positiva são decisivas: O coach reforça que o medo de perder não deve dominar o jogador. O foco deve ser em executar as próprias melhores jogadas e manter a confiança, especialmente nos momentos de maior pressão. Gilbert cita Novak Djokovic como exemplo de jogador que se destaca em tie-breaks por sua capacidade de manter a calma, jogar com inteligência e não se deixar levar pela pressão.
Realismo nas expectativas e valorização do processo: Gilbert critica a cultura de promessas exageradas para jovens atletas e enfatiza que nem todos terão chances reais de ser campeões de Grand Slam. Para ele, é essencial que treinadores, pais e jogadores tenham uma avaliação honesta das possibilidades, valorizando etapas como o sucesso no circuito universitário ou a progressão gradual no ranking profissional.
A carreira é curta e deve ser aproveitada: Brad Gilbert enfatiza que o tempo no esporte é limitado e que a maior satisfação está em aproveitar o caminho, não apenas os títulos. Ele aconselha os jogadores a procurarem equilíbrio, a cuidarem da saúde mental e física, e a construírem uma trajetória que seja sustentável e prazerosa, considerando a vida fora das quadras.
A prática e os bons hábitos são a base do sucesso: O treinador destaca que resultados positivos não surgem do acaso ou de esforços isolados nos torneios. O sucesso depende de uma rotina consistente e disciplinada de treinos, onde bons hábitos são formados e mantidos, o que se traduz em desempenho sólido durante as competições.
Gerenciar o jogo e a si mesmo é uma habilidade chave: Mais do que ter o melhor golpe, o atleta precisa saber administrar suas forças e fraquezas, minimizando riscos desnecessários e explorando as vulnerabilidades do adversário. A gestão emocional durante o jogo é tão importante quanto a tática, e o treinador tem papel crucial em ajudar o jogador a desenvolver essa capacidade.
A evolução das equipes e tecnologia no tênis: Gilbert comenta que o suporte aos jogadores hoje é muito maior, com equipes numerosas e uso intenso de dados e análises. No entanto, ele alerta que a tecnologia pode ser um excesso, e o verdadeiro valor está na leitura do jogo e na intuição, que o treinador deve preservar e cultivar.
A dificuldade de lidar com a pressão e a frustração: O ex-jogador confessa que hoje sente as derrotas mais intensamente como treinador do que como atleta, pois se envolve emocionalmente com o desenvolvimento dos jogadores. Isso evidencia a complexidade do papel de um coach, que precisa equilibrar envolvimento e objetividade para ajudar o atleta a superar obstáculos.
O tênis como um jogo mental e estratégico: Gilbert reforça que o tênis é, antes de tudo, uma disputa tática e psicológica, onde o conhecimento do adversário, o equilíbrio emocional e a capacidade de ajustar o jogo são tão decisivos quanto a habilidade técnica.
Esses insights revelam não só a complexidade do tênis profissional, mas também a riqueza do papel do treinador, a importância da mentalidade e da preparação integral para alcançar o sucesso em um esporte que exige precisão, resistência e inteligência.

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